terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Pode até ser gay, mas não em público

Nos primeiros dias de 2014 eu estava no Rio de Janeiro com meus primos e primas num bar da Lapa que eu adoro. O dono, que estava próximo a nós, foi abordado por militantes LGBT que o acusavam de não tolerar homossexuais em seu bar. A resposta foi: "Não discrimino, eles podem vir à vontade. Mas se começarem a se beijar eu peço para maneirar, e se continuarem eu mando se retirar. Isso é um bar de família. Duvido que eles façam isso nas salas de suas casas". Engoli a ânsia de vômito, tomei a saideira e fui embora.

Ontem fiquei sabendo que um professor da universidade onde trabalho andou fazendo postagens de teor parecido, mas mais agressivas, no facebook. Você pode conferir aqui: http://educacao.uol.com.br/noticias/2014/01/14/professor-da-ufrpe-gera-polemica-com-comentarios-considerados-homofobicos.htm . O colega que envergonha nossa classe parece achar que vivemos uma ditadura gay, na qual héteros são oprimidos e em que gays tem a cara de pau de ostentarem sua orientação sexual e atrapalharem palestras alheias (claro: nunca pessoas hétero tem comportamentos inadequados. Ninguém nunca viu isso acontecer).

Cheguei hoje emputecido à universidade, e toquei no assunto no começo de uma aula. Para minha surpresa ainda tive de ouvir alunos de HISTÓRIA (supostamente um viveiro de esquerdistas empedernidos, ao menos nas fantasias da direita) dizendo coisas como "ah, mas pra que ficar falando por aí que é gay? Alguém fica falando por aí que é hétero? Tem camisetas dizendo 'sou hétero'?". Bem, incrível, mas esse tipo de coisa parece estar em todo lugar, mesmo que desafie qualquer lógica.

Pessoas não agem no sentido de mostrar que são héteros? Quantas milhares de mesas de bar neste exato momento estão ocupadas por caras falando de carro, mulher e futebol enquanto tomam cerveja? Isso não é dizer que é hétero (Gays podem fazer essas coisas, claro, mas qualquer homem hétero sabe muito bem que esse tipo de conversa é parte essencial da "sociabilidade masculina hétero". Gays podem fazer essas coisas, e muitos fazem, mas normalmente isso é um marcador social de heterossexualidade masculina) ?

(Nem vamos nos aprofundar dos inúmeros obstáculos e sofrimentos que os homossexuais vivenciam antes, durante e depois de se assumirem. Não me sinto em condições de falar de algo tão sério sem ter vivido isso. É ocioso também, para qualquer pessoa sensata, ficar falando na discriminação que essa categoria sofre, incluindo o risco de morte. Só lunáticos são capazes de ignorar isso).

E nem falo na perspectiva esquerdista. Tento aqui visualizar a opinião de um liberal sobre o assunto. Imagino essa pessoa pensando: "beijar a pessoa amada em público, usar uma camisa dizendo 'sou gay', ter uma postura afeminada ou usar roupas espalhafatosas. Se isso faz alguém feliz, e de fato não causa nenhum transtorno a ninguém, qual o problema? Democracia e liberdade é isso". Bem, ao menos para quem não vive na Idade Média, parece algo óbvio, não?

O que se pode concluir disso tudo é que não falta quem sequer tenha compreendido o que é viver num mundo racionalista. Pior que as explicações clássicas não dão conta do fenômeno. O professor em questão é doutor, então não é falta de estudo ou acesso à informação. Quem me passou, indignado, o link que compartilhei, é um protestante, então não é questão de religião. Ao que parece vivemos num mundo repleto de trevas e ignorância em um nível que ainda não conseguimos avaliar.